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Pederneira. Substância muito usada no fabrico de corações humanos. (Ambrose Bierce)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Cão danado

Entre uma baforada e outra trocava um dedo de prosa com certos amigos do serviço. Ritmo cansado de um dia corrido e cansado. Gente cansada, assuntos cansados.

Só o Diabo sabe o quanto um tabaco é bom pra relaxar. Gosto de tragadas rápidas trocando os dedos, deixando a fumaça sair naturalmente pela boca. Uma leve batidinha no cigarro pra puxar a fumaça, um soprinho suave: A fumaça vai levantando, fluando pela boca...

Rua suja, gente suja, mundo sujo.

De Deus ao cunilingue, assuntos banais. Gente passando nas ruas. Vida de subúrbio, vida tacanha. Pé na rua, baforada, conversa fiada, baforada, olhar a gente suja, baforada, pé na rua, baforada.

Só o Diabo sabe o quanto é bom uma baforada de tabaco...

Fitando bem esses sujeitos, novatos nessa vida bandida, nessa vida ralada, vida vivida, penso comigo. Sinceramente. Meu velho; estamos no mesmo barco furado.

E baforada, cão danado, e baforada...

Perdição; ou Conto não muito contado.


A primeira regra para um mochileiro perdido é não parecer perdido. Não só mochileiro, para um atravessador é bom não parecer perdido. É uma regra geral.

"- Então, Gargantinha, é o mesmo de sempre, correto? Sutil, ligeiro, saiu chegou".

O foda é a regularidade. Existe um monte de nuances bobos fudidamente cruciais em negócios desse tipo. Qualquer olhar mal dado gera uma dor de cabeça do cacete, e depois é aquilo. Você não pensa na coisa em si, pensa em concluir o serviço. É um serviço. É um negócio como outro qualquer, cheio de especulação e azar. Fica atento, faz o seu, tenta entender o esquema o máximo possível para se manter com algum pé no chão. Não faz perguntas, faz a tua parte. Não pense muito nisso, e mantenha a mente em Deus, muita gente faz pra se desculpar. Eu sou filho de malandros, vivo de malandragem, comigo é natural. Eu nem sou revolucionário ou coisa do tipo, nem sofredor, ou vida louca. Eu sou um merda qualquer. Eu sou o melhor atravessador que tu vai encontrar em qualquer buraco do Rio de Janeiro à Colômbia, Zaire, Miami ou Holanda. Eles me chamam Gargantinha - Uma droga de um apelido ridículo, com uma história ridícula por trás, é gay pra cacete.

O negócio é que, seja você bandido, traficante, espião ou investidor de alto rendimento, você vai precisar de alguém para lavar o teu dinheiro. É uma necessidade. Se for bandido, vai precisar de comparsas, sendo traficante, funcionários, espião, contatos, e investidor de alto rendimento tudo isso mais um assassino profissional de vez em quando. Pode aparecer aventureiro, mas esses caras têm uma história de merda por trás. Pelo menos, os caras que conheço dos meus trabalhos. É um exemplo. Não dá pra fazer nada pelas costas do Governo; alfândega, rodovias, navio, avião, burros, juiz. É gente pra caramba pra subornar, e gente pra fazer o serviço, é uma indústria como outra qualquer. Eu sou um dos simples, e gente como eu tenta não parecer descartável.

Dinheiro, drogas e mulheres, meu amigo; a recompensa. E pé na estrada. No aperto, urubu é meu lôro. É verdade. Vive-se.

Mas o foda mesmo é que estamos em um réquiem bizarro (réquiem). Definitivamente, estava tudo muito certo. Avião, hotel, encontro. Eu sou uma raridade nisso, nessa de atravessar. Eu tinha que estar estabelecendo ditaduras para o Governo Americano, meu irmão, eu sou uma cobra. Mas é, sim, exato: me pegaram. Alguém me ferrou. Tempo demais, um passo errado, irritar alguém, comer a mulher errada, azar. Azar, pode ser azar, o azar só não existe para quem já venceu na vida. É uma droga, esse negócio de esperar a própria morte. É a tortura, enfim, você sente dor, e fica confuso. E vamos manter a lucidez... Eu quero sair sereno e bruto, como sempre fui... Cortaram minhas pernas, certo? É estúpido. Essa coisa de arrancar as unhas, e mergulhar na água, choque, toda essa coisa. Medo. Medo e confusão. Por que diabos cortaram minhas pernas? Eu serei queimado? Morrer na porra do México. Morrer na porra do México é foda. Morrer na porra do México, traído, sem as pernas. Eu não sei se é o ser ou o não-ser, como diz nos filmes.

A bala vem ao meu crânio, e é só medo, confusão, e espanto. Acho que não estou realmente pensando em algo. No fim, eu não sei.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Decálogo para pensar a cultura atual

1. A cultura é o que há de mais valioso em uma sociedade: o que coroa sua existência, o que lhe permite formular suas estratégias de crescimento, o refinamento de sua visão do mundo, a elaboração da felicidade de seus membros.

2. A pobreza material é criada pela pobreza cultural: nossa produção de miséria é nosso fracasso na criação de uma cultura vital. Em vez de nos atarmos a uma visão tradicional da cultura se faz necessário reformula-la para reverter à situação.

3. Cultura é criatividade, não respeito. Atrevimento e ousadia, não repetição e rigor (mortis). Cultura não é venerar sempre aos mesmos. Mais que venerar é respirar e querer, viver a própria vida com autenticidade e vigor.

4. Internet é cultura: se lê menos, se escreve mais, de outra forma, os índices para compreender a cultura de 50 anos atrás não podem aplicar-se hoje. Existe um mundo novo.

5. O pensamento crítico inibe a produção de cultura: temos idolatrado a objeção, a distância objetiva, a suspeita e a interpretação cínica. Isto gera a queda; não nós salva, nos oprime.

6. Cultura é pensamento: ver as coisas de novo, não aferrar-se as mesmas idéias de sempre para salvar-se do mundo, mas sim, buscar idéias novas para querê-lo e produzi-lo.

7. Cultura é mercado. Produtos, consumo, inversão, ambição, ganância, desejo de mais feito arte. Lutar com a sociedade de consumo é ignorância, visão estreita, debilidade mental.

8. Cultura é arte de viver. O que os espanhóis demonstram o prazer de estar ocioso e ser, de quere-se e enfrentar os conflitos. Não distanciar-se das coisas e sentir-se superior, ser, pelo contrario, capaz de querê-las mais.

9. Cultura é crescimento político. Reformas - se reformas são necessárias -, oposição inteligente e não somente partido hegemônico. Aceitação dos limites do mundo político e trabalho para defender e melhorar as instituições humanas.

10. Atualizar os valores é fortalecer a cultura. Dar-se conta de que os valores não morrem, mas sim, que se transformam, aprender a ver que existem valores novos que são superiores a muitos dos valores perdidos. Devemos nos colocar a altura das circunstâncias.


Fonte: http://tribunadafilosofia.blogspot.com/2010/07/decalogo-para-pensar-cultura-atual.html

sábado, 8 de janeiro de 2011

O desbravador do campo de centeio

O maior mérito de O apanhador no campo de centeio talvez consista no fato do texto tratar, de um modo jovial e pouco clássico, das complexas questões da juventude: A indefinição do papel social do jovem, a sexualidade, a amizade, a relação com os pais, com a religião, com a escola.

J.D. Salinger, embora fosse ele próprio um homem obscuro e retraído, parte orgânica daquela angústia poética muito característica da primeira metade do século XX (Traço fundamental do Modernismo; angústia, intranquilidade interior manifesta, reflexo de um tempo de guerras e ruína), já em O apanhador revela um espírito varguardista independente; uma outra maneira de lidar com a guerra e a ruína, tão característica da segunda metade do século XX (geração beat, rock in roll, metal, contra-cultura).

Na primeira metade do século XX a guerra é física e o repúdio é interiorizado, com a Guerra Fria, a tortura é interiorizada, e a reação exteriorizada.

Holden Caulfield já não é apenas um homem angustiado formalmente inquiridor, tão pouco um jovem romântico, ele é um anti-herói. Sarcástico, cínico, dono de um sentido crítico aberto e agressivo ao seu modo. Tem algo de debochado, de depravado, de subversivo, de despreocupado, de anárquico e autocrata - Elementos suficientes para alisar a vaidade de adolescentes e pessoas mais excêntricas. Ele encanta pelas suas imperfeições, exageros e digressões vãs. Exala um "desejo de incorreção", Muito daquilo que estava naqueles pré-adolescentes e adolescentes que viveram a sombra do Macartismo. O Colégio Pensey, do qual Caulfield foi expulso, entendemos, é um pouco da própria América de Salinger, ou do próprio mundo. Falsamente elegante, hipócrita, repressor.

Existe também uma certa mensagem messiânica no texto, uma esperança acalentada, um sonho, mas não apenas uma abstração, porém um grito, uma ação. Ou um certo infantilismo, dizem os psicólogos. Caulfield deseja "salvar as crianças":

Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa q eu queria fazer. Sei que é maluquice

Holden Caulfield, de Salinger, é uma crítica ao formalismo da formação educacional e infantil de sua época. O autor, ali, nega o autoritarismo por um estado livre do indivíduo. Nega o ditador, e afirma o apanhador, nega a realidade crua, massificante, de concreto e velhacaria, preferindo as brisas de um campo de centeio.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Considerações sobre O Caminho

A vida traz a cada um a sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, algebra, pintura, arquitetura, poesia, comércio, política — todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da seleção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo. É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer tudo na ordem correta. Onde quer que haja insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa. Condições felizes de vida podem ser obtidas nos mesmos termos. A atração que elas suscitam é a promessa de que estão ao nosso alcance. As nossas preces são profetas. É preciso fidelidade; é preciso adesão firme. Quão respeitável é a vida que se aferra aos seus objetivos! As aspirações juvenis são coisas belas, as suas teorias e planos de vida são legítimos e recomendáveis: mas você será fiel a eles?



Ralph Waldo Emerson.

www.citador.pt/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mitos Modernos

De todos os mitos modernos, dentre a eminente Guerra Nuclear, os zumbis, vampiros existenciais, a pesquisa de opinião pública, a igualdade de oportunidades, até a manga com leite, nenhum me agrada tanto quanto o mito do espião.

Claro, eles existem. Sabemos bem. Estão monitorando nossos emails, afirmando e derrubando regimes totalitários, mas toda a nuvem ao redor da figura misteriosa do espião em uma sociedade interligada como a nossa gera uma aura heróica e vilanesca em um só tempo sobre esses jovens estudantes de infância infeliz recrutados para o serviço inconfessável de seus países(maquiavélico por necessidade). Adentrar, detalhar, perceber, recolher. Entre a materialidade de um Edward Bell Wilson, ao utópico garbo de Bond, existem profundades da maior realidade.

E nos consideramos falsos? Sustentar durante longos períodos identidades móveis, tipos, recortes e feições de uma vida de horas, dias, ou anos. Remido por ordens, sozinho e ao mesmo tempo com milhares de olhos recuperando cada uma de suas ações. Missão após missão, a família, a vida cotidiana esmagada pelo interesse de mundos. O espião é o supra de toda a paranóia que dizemos existir, de um modo geral. E existiria, de fato, uma paranóia generalizada?

Basta saber que existem pessoas por aí, monitorando nossos emails, recuperando nossos passos.

E são bem eles. E sabemos muito bem.

Da Internet

Processo Histórico é uma coisa terrível. Chamemos de Destino como o velho Homero, Logos, Providência, Dialética, condenemos tudo a um brutal acaso, estamos sempre anexos ao nosso tempo.

E eu sou da Geração Y. Fui criado naquilo que Allan Grenspan chamou de "boom artificial tecnológico", temos a tela como um ícone de necessidade, falamos mal de tudo e de todos e nossa maior aflição é falta de luz. Mas eu demorei um pouco para me ypsulonizar, na verdade...

Conheci a Internet de fato, apenas cinco anos atrás. Muito por causa de uma amiga muito afetuosa, doida pra ter o meu, na época, enigmático, Orkut.

Cursos de informáticas? Sim. Básico, montagem. Mas confesso que nunca fui muito chegado ao grande público, e como a Internet é popular, procurava evitá-la. Bem mais do hoje, gostava de luzes e brilhos, desgostando dos refletores.

Aconteceu então a Internet. Sites de cinema, séries e filmes, comunidades de relacionamento. Sim, acredito que conservo algo de pós-moderno, cyberpunk com textura e algo multifacetadfo, John Barth não me reprovaria de todo, sem dúvida o pós-moderno mais habilidoso.

Não. Não mesmo vejo a Internet como um espaço global invisível feito para todos pelas linhas de web. Vejo a Internet como aqueles jogos da infância, aquele Nintendo. Um escape rápido para uma ilusão atrativa, um jogo de hora marcada, um caminhar rotineiro ao mesmo canto de sereia. Não e sim, uma necessidade, não um gosto, mas uma adequação. Processo histórico.

Sempre anexos ao tempo.

Leve delírio ao amanhecer...

Vejamos nosso amigo, filósofo e vintista, derradeiro de seu milênio, carregado de sua Ciência dos Venenos. Anela a velha pergunta, seja romântica seja legalista, de um velho misantropo: Tem sentido a vida?

E não dizia o mais impressionistas dentre os impressionistas, Nietzsche, apreendermos primeiro as idiossincracias dantes das verdades? Ele, vítima de si, como bom trágico.

Aí o apodrecimento, decadência diriam, dos vazios de Heidegger, e os muitos divisíveis de Foucault e a proletariedade distinta do bom Sartre; bate cartão chamado liberdade, utopia, na fábrica do mundo.

Mundos, molas e organismos em continuum, pouco visível em suas contingências, impossível, sem suas contingências. Por sempre, causa eficiente de efeito causal. Necessário.

E nesse entremeio, das rusgas, dos adornos de uma aparência, fugaz, sempre fugaz. E o porquê, de fugaz? É a mão calejada de um mesmo Sísifo - diria Camus em sua volúpia noir - subindo sua pedra, para que caia, novamente, e mais e mais. É esse veneno, digo, Eu, é essa mente vertiginosa de independência violada, desapegada de seu absoluto, reconhecendo suas condições; além do livre-arbítrio, além do Destino, além do Bem e do Mal...

O Ser, em plenitude Ser.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Humor e Filosofia


Se a beleza salvará o mundo é coisa que não se vê, ainda, mas que o humor refresca a vida é ato cotidiano. Do povo simples ao dândi, do humor estabanado, pornográfico e lugar comum, ao refino comedido, reflexivo, interessante de uma ironia fina.

Em muitos aspectos, por sua metafísica estética, o humor é a melhor ou a mais interessante resposta ao Absurdo. O ato de amar pressupõe ansiedade, o ato de desejar pressupõe carência, o ato de ter pressupõe precaução, mas o ato de rir é isento. O homem, enquanto ri, está completamente satisfeito em si mesmo.

Sendo assim, não posso deixar de pensar no depressivo Tesla superando a melancolia lendo Mark Twain. Eu mesmo já superei a melancolia com o The Devil's Dictionary, de Ambrose Bierce.

Um homem como Nicola Tesla poderia aprender com Tom Sawyer?

Sim, e, de fato, tudo. O humor é uma reação positiva a uma situação negativa, não se exige uma construção, um sentido, ele não é drama; não é pensamento, é sensação. É, instintivamente, uma leve reação de superioridade mediante as coisas, até de si mesmo. O humor é independente e auto-suficiente demais para não aborrecer a vaidade dos espíritos profundos ou pretensiosamente profundos, e estou me incluindo aqui.

Nietzsche foi talvez o primeiro filósofo moderno a perceber a necessidade do humor. Pena não ter sido engraçado, era trágico demais. Sócrates, outrossim, e Voltaire com ele, tiveram outra disposição e mudaram seus mundos.

Enquanto escritor, sempre fui bom com a sátira. Dizem que gente assim é boa com sátira: Ambrose Bierce era um homem de péssimo caráter. De qualquer maneira, se louvo o mérito, não me dedico a ele: Penso também que é preciso ser honesto consigo, e não me parece certo sorrir em um vale de lágrimas. É contraditório.

Nota de delírio

"To absent friends, lost loves, old gods, and the season of mists; and may each and every one of us always give the devil his due"

("Hob Gadling". Neil Gaiman, The Sandman)


A névoa do Porto fica cada mais vez densa do que o habitual, e conserva mutante comigo saberes perdidos;

"Por todos os deuses, Homem, conte com o maligno acaso na horá má, e saiba que melhor é cair com os olhos fechados!"

Dizia assim velho baldo carcamano, Coragem, como citando uma frase de guerra ininteligível ao seu medo. Velho lobo. Dizia também ter conhecido Teseu, Orlando o enamorado e o furioso, Tamerlão, John Bart e Barth, os três cavaleiros de Pompéia, Caxias em Avaí. Arrogava ser o velho mais velho e mais moço. Contava ainda navegando quase dez mil e tantos anos quando morreu de repente. Morreu na cama, digasse.

Conheci bem seu onomástico, bem baldo bem coragem. Fui tripulante-agrimensor de reserva em sua navio, e nele mesmo perdi minhas duas pernas. Ataque de Leviatã, digasse. Azar não morrer de pronto, digasse também.

Digasse de fato. Não conto mais de duzentos anos, manco permaneço no Porto. Se conto? Com quantas conto? Conto causos em causas aos transeuntes que por maligno acaso cá acabam. Dentre céus e nascimentos, dentre os Infernos e os mementos, no eixo inverso de vazio e caos, promontório do Nada-Mundo, conta cá cantos um danado aleijado.

Nibelungos (español)

¿Por qué escribir? No, no hay memorial, tengo aún veinte años. Son sólo bocetos, per muchas, muchas razones;

La ignorancia teológica de Dios y las disputas vanas de los hombres eruditos: Erudición, la Violencia, Rebelión, y la Tradición, los cuatro nombres sagrados. Y más ruido y más y más, el caos, las ideologías negadas afirmadas no vividas; sistemática: el estancamiento triunfalista de la década de noventa, el delirio del nuevo milenio tecnológico, nihilismo Nirvana en trascendental post-rock y el rock, funk carioca y forró universitario, É o Tchan!, Rock Colores, Lady Gaga, Linkin Park. Al Qaeda en Internet. De Calentamiento Global a la Harry Potter en el informe periódico. Mi dedicación a la literatura ciberpunk y el siglo XIX. Vi el fuego de Bagdad en la televisión, y la caída de las torres. Coca tomei, comiendo Big Mac.

Y vi que todo era bueno.

Y contra el más grande de todos los demonios, refugio imán en una habitación cerrada, lejos de los dioses ahora - las riquezas, su consorte de Shiva - pensamientos inmediatos, mezcla la hidrocodona y la luz de la nicotina, artificiales, y el estreñimiento sarna, vómitos y ansiedad, dolor muscular. Escribir cartas y hacer incomprensible, innecesario, y termina cuando todo cae, y el empeoramiento, y se rompe, y con qué fines? Confines de la rechaza nada.


Además, los Nibelungos. Nota discurso.
No, no más. Haga caso omiso.

Da inexistência de Deus em termos neoplatônicos

Se Deus existisse e existisse livre-arbítrio:

Deus é eterno, Seu princípio maior é Sua perenidade constante. Toda a realidade flui de Deus, logo, tudo é Ele. Então temos um Deus que está em tudo, constantemente, e é a própria totalidade. Estando no todo ele, acertadamente, estaria em tudo, agiria em tudo, saberia de tudo. Seu principio maior, lógico, Sua base fundamental e Seu âmago é a própria eternidade. Agora, uma perspectiva interessante: Se Deus sendo tudo permitisse uma sabedoria dentro de si, o Homem, e essa sabedoria decidisse agir por conta própria, logo - livre-arbítrio - então ela estaria claramente violando o agir constante de Deus, agindo por si, estaria violando a imanência da vontade de Deus, por agir fora de seu próprio campo de conhecimento. Estaria sendo uma potência própria. Se tais fenômenos ocorressem então Deus entraria em paradoxo. Estaria, de uma só vez, quebrando Seu inquebrantável poder, desconhecendo um processo, desconhecendo um agir. Se Deus, por um só segundo abandonasse sua totalidade, estaria destruindo toda a sua existência em qualquer grandeza espaço-tempo.



Se Deus existisse e não existisse livre-arbítrio:

Se tão somente sem o livre-arbítrio seria possível existir um Deus (especialmente o Deus cristão-judaico-islâmico), então a própria existência do Deus seria NULA. Sem o livre-arbítrio; tudo aconteceria por um Destino* integral, na amplitude máxima do termo. Tudo, todas as ações, todas as coisas obedecendo o pensamento de Deus ininterruptamente (inalterável per si). Não existiria pessoa boa ou má, mas pessoas de sorte e pessoas de azar - pelo problema da Teodiceia. Em absoluto nada seria de responsabilidade humana; nada, nem o menor pensamento, nem a menor ação (obedecendo a perfeição de Deus). Por que alguém precisaria em tais circunstâncias de devoção, fé, ou Demonstração? Não precisaria. Simplesmente já nasceríamos padronizados ao Céu ou ao Inferno...

... Mas, Espere;


Agora temos entramos em outra contradição, também no Deus sem livre-arbítrio (algo de impossível): Se Tudo é o pensamento de Deus, Sua ação, Sua vontade, e mesmo assim existem ateus, é porque a própria existência de Deus é um engano (um paradoxo, sendo o Ser em algo Não-Ser).



Mais claramente: Cogito, ergo sum = Existo porque percebo que estou existindo = Logo, não poderiam existir ateus. O pensamento de Deus; TUDO, o SER; não poderia PERCEBER SUA INEXISTÊNCIA. Nenhuma realidade poderia perceber que não-existe, sua própria percepção pressupõe sua própria realidade. Paradoxo.



Paradoxos. Salvo em Tomás de Aquino, em que Deus é uma manivela (refutado por Hawking alguns meses atrás), ou Hegel, que faz de Deus o correr do tempo (visão tão subjetiva quanto impraticável). Subjetivismos intencionais e pouco honestos. É no fim das contas como nos diz Ernest Gellner sobre Kierkegaard (e vale o mesmo para Agostinho e todos os outros teólogos):

"Mostra em sua filosofia que a religião é, no seu fundamental, não uma persuasão da verdade de uma doutrina, mas sim a dedicação a uma posição que é inerentemente absurda".

De um encontro com Deus

Certo arqueólogo de um futuro distante encontrou em um sítio o que chamamos hoje de textos sagrados. Intrigado, curioso e sincero, o tal homem resolveu tentar o que chamamos (nós antigos) de "falar com Deus". Para o seu espanto completo no momento em que terminou de orar bradou no ar, como um trovão, uma voz idosa e imponente:





- EU.


-... Deus?! - O homem não sabia se corria, gritava ou infartava.


- Sim, eu sou quase o próprio. Eu sou o tudo e o tudo sou eu... Praticamente.


- Não pode ser. Eu fiquei louco!


- Você está bastante são.


- Mas, não é possível, estou mesmo falando com Deus?


-... Sim. Praticamente.


- Você, Vossa Santidade, quer dizer, o senhor é uma força cósmica ou algo assim?


- Eu sou um cara branco sentado em um trono... Sério mesmo.


- Então os antigos estavam certos. Inacreditável.


- O que você quer?


-... Não sei. Nunca pensei, com todo o respeito, que existisse.


- Eu? Não existir? Absurdo!


-... Todo o mundo atual é ateu. Vai por mim, eles não acreditariam que falei com você em nenhuma circunstância.


- Ateu? Que coisa... Então?


- Então?


- Como estão as coisas? Dormi um tempão - dando uma risadinha - Um tempão no meu ponto de vista, seria um tempo absurdamente gigantesco pelo seu.


- Dormiu?


- Exato. Aquela coisa do sétimo dia e tal.


-... Segundo a tradição foi no começo do Universo!


- Sim, e terminei o sono cinco minutos atrás.


- Tá de brincadeira... Todo esse tempo, mas, então... Dormindo?!


- Sim.


- Que merda! A galera aqui arrumou uma confusão dos diabos!


- Diabos?


- Diabos, caras com chifres, Inferno!


- Caras com chifres?


- Vai bancar o desentendido agora?


- Meu filho, rapagote, seja mais claro.


- Ficamos séculos e séculos debatendo a sua existência, matando e morrendo, e depois de tudo isso, na maior cara grande, você vem com esse papo de "tava tirando um ronco"?!


- Exato.


- Sofremos muito aqui!


-... E?


- E?!


- Estou começando a reavaliar a sua saúde mental. Vá direto ao ponto.


- Tudo bem, qual o sentido da vida?


- Como assim?


- Por que existir? Por que estamos todos aqui, comendo e transando, nascendo e morrendo, qual o propósito?!


-... Acho que nunca vi as coisas por esse ângulo. É uma boa pergunta.


- Então não existe um sentido.


- Não mude minhas palavras.


- E agora? Destruirá o Universo com um estalar de dedos?


- ... Não. Destruir é uma atividade complexa e cansativa demais.


- Então eu pergunto... E Agora?


- Agora?

O gigante de pedra

E ele vai entardecendo com o meu orgulho. Gole seco de conhaque, bandeira 2 (já?! Pilantra!), anfetamina, e as palavras daquela criatura atormentando minha inquietação. "Vai rápido qu'eu já tô virado no Diabo!". Detesto tudo isso. Vou seguindo assim na beira da ladeira enquanto nada aparece, vai o dinheiro, consumido pelo tempo. Dia de cão. O problema com os velhos amigos é esse aí mesmo: Falam as coisas que não queremos ouvir. Escutei muito daquilo que não desejava ouvir.

hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás

Você só compreende esse pensamento depois de passar pelo Inferno. Vi o rosto de Che em uma camisa, passando pela perimetral; fiquei pensando nisso. Um cara de moto; rápido. Socialismo, revolução, atitude revolucionária, luta de classes, luta de todos contra todos... Aquele calor no rosto e a mente febril. No fim das contas não é a força, é o modo. Tens a força necessária para levantar o mundo, mas e daí? Não pode colocá-lo em suas mãos. Sopre e lance o mar ao Universo, não pode mesmo assim apanhar um punhado d'água. Lute contra todos, eles vencem pelo número. O mundo não é conquistado, nem superado, ele nos transpassa... Resistir, mas fluir. Estou com essa ideia fixa, resistir e fluir, resistência e fluidez, não sei o motivo.


Gigante orgulhoso, de fero semblante,
Num leito de pedra lá jaz a dormir!
Em duro granito repousa o gigante,
Que os raios somente puderam fundir.

Hugo, Gonçalves, o taxista, Motannabi ou o Diabo...

Nibelungo

O porquê de escrever? Não, nada memorial, conto vinte e poucos anos ainda. São esboços somente, de muitos e muitos motivos;

Teológicas ignorâncias de Deus e as querelas vaidosas e catedráticas dos homens: Erudição, violência, tradição e rebeldia; quatro nomes sagrados. E mais e mais e mais, barulho, caos, ideologias negadas afirmadas não vividas, a sistemática: o marasmo triunfalista dos anos noventa, o delírio tecnológico do novo milênio, niilismo Nirvana em transcendentalismos Post-rock e rock, Funk carioca e forró universitário, É o Tchan!, rock colorido, Lady Gaga, Linkin Park. Al Qaeda na Internet. Aquecimento Global e Harry Potter na mesma notícia de jornal. Minha devoção ao Cyberpunk e à literatura do século XIX. Eu vi o fogo de Bagdá na TV, e as torres caindo. Tomei Coca, comendo Big Mac.

E vi que tudo era bom.

E contra o maior de todos os demônios, no retiro imanado de um quarto fechado; distante dos deuses do agora - Mammom, sua consorte Xiva - pensamentos imediatos, mesclados hidrocodona e nicotina, luz artificial, constipação intestinal e rabugem, ânsia vomitiva e dores musculares. Escrever e fazer letras incompreensíveis, inutilmente, enquanto tudo cai e termina, e piora, e quebra; e com fins de quê? Confins de nada.


Tão assim, nibelungo. Nota dissertativa.
Não, sem mais. Desconsidere.

Belial

Na escrita de memórias em forma de trágico, conforme a letra vira caráter, e no papel, fibra, músculos, e suor, e momentos, e olhos, falares e gestos. Conforme vai se emanando - irmanando - em páginas e páginas, o mesmo e o quebradiço momento. Passado. Remembramento. Fraturado pelo contínuo trincar de novas sobre outras apreensões de sensações. No profundo ainda consiste a mesma imagem, o mesmo juízo absoluto, do indito e proibido, daquilo que não deve ser olhado, daquilo que não deve ser tocado, da derradeira cabala dos receios, do calcanhar aquílico: Sombra detrás da consciência, inimigo de dentro, expulso por vã ilusão de imagismos... Nas temidas últimas folhas.

[Olha a janela, apaga o fogo. Observa o céu como quem vê um espelho côncavo]

Lya Luft e outros vivos

Certo é: Vive mais a literatura dos sepulcros antigos de velhas mentes e das sombras da paixão pelo Belo. De qualquer forma, existe tanta beleza possível no hoje quanto no ontem. Então que seja embelezado o agora....

Dos escritores brasileiros atuais, quem mais me agrada é a escritora de nome engraçado Lya Luft. Lya Luft... Faz pensar em personagens engraçados da Disney. Não, muito pelo contrário, o visto em Luft é uma literatura intrigante, bem estruturada e com um tom bastante atual, livre de classificações apressadas. Uma espécie de realismo em contornos românticos, faz até pensar em Thomas Mann - Mais leve, mais subjetivo, e feminino. Pensar é transgredir, um texto de especial mérito, merece não poucas leituras.

Em um campo mais técnico me agrada Boris Fausto e Marcelo Gleiser. Como Sidney Chalhoub, escreve Fausto História com charme, mas diferente do último não é tão bitolado em Marxismo. Chalhoub quase transformou Machado de Assis em um líder sindical em sua análise. Fausto tem mais humor. Marcelo Gleiser faz o mesmo nas Ciências Difíceis, fala da física do mundo com beleza. Criação Imperfeita, belo trabalho, seria magnífico se não tentasse justificar a prerrogativa Deus tentando salvar o velho e acabado argumento teleológico. Drauzio Varella que nos salve!

Falando em gringos, faz um tempo que tento ler Stieg Larsson (certo, morreu). Vamos a outro: Cormac McCarthy. Na curva da esquina, mas vivo. Antes de nosso guru espiritual Chuck Palahniuk dar acabamento ao espécime, já fazia lá trás McCarthy Ficção Transgressional em seu terrível Meridiano de sangue. Um livro imperdível. Uma porrada muito forte no estômago, sem pedido de desculpas, assim pode ser explicado o estilo de McCarthy. Também não é possível esquecer de Richard Dawkins, um sátiro e propagandista de primeira. Deus, um delírio apresenta alguns momentos dignos de George Carlin. Saramago, que parece aumentar ultimamente a intensidade de sua literatura. A mão em Caim é bem mais agressiva, penso eu, do que em O Evangelho Segundo Jesus Cristo. É desnecessário comentar essas idiotices “sucesso de vendas”. Vampiros indies, teologia de Cabana e privada, mistérios escabrosos e coloridos da Igreja Católica...

Para finalizar, Orhan Pamuk. Neve. Para ser sentida, faz uma literatura de sentimento piedoso e contrição. Um tanto perdido em um mundo como o atual, Pamuk é serenidade em tempos de guerra.

Análise historiográfica do tempo presente - I

Amanhã será lançado o novo livro de Stephen Hawking, The Grand Design. Hawking, um homem de notoriedade e espanto, tanto por afirmar quanto por negar certos paradigmas. Era aos 20 anos um estudante de capacidade, porém despreocupado, e que viveria um grande choque ao descobrir sofrer de neurodistrofia muscular (Doença que o mataria em 2 anos).

Hoje, aos 68 anos, publica seu mais ambicioso e polêmico livro - O Grande Projeto. Uma teoria totalizante que abarca todas as descobertas da Física atual, uma visão total do Universo, algo muito comum no Universo metrificado até o séculos XIX, porém destruído por Planck e o Quantuum no XX. O ponto mais polêmico porém é outro (mais interessante ao público): Esse inglês deficiente de bom humor acredita ter eliminado a possibilidade de Deus existir, ou no mínimo, ter criado o Universo. Ao menos, é a propaganda da obra que será lançada. Se em Uma breve história do tempo Deus era um geômetro tímido, agora já deixou a oficina e evaporou.

Na Internet debates intermináveis, nos países mais modernos argumentos calóricos. Desde o amável reverendo Albert Mohler chamando o falecido Sagan de infame, ao nosso também querido e alegre Bill Maher ridicularizando a Bíblia.

No Brasil, com sua mídia católica nada-praticante, elite utilitarista e núcleo acadêmico feito de pseudo-marxistas-gnóstico-messiânicos, o mais perfeito silêncio. Uma notinha ali no jornal virtual da Globo, já é o bastante.

Lá fora, mais um filho de Brutus taca o martelo na estátua de Baal.




(08/09/10)

Adendos ao Dicionário Filosófico: Marx

Um judeu herético nascido em algum bosque da Alemanha.

Dotado de uma oportunista retórica casuística, em um tom messiânico, entre a louvação da miséria e a idealização romântica de um idealismo subversivo, foi o delírio do proletariado analfabeto industrial do século XIX, e de burgueses decadentes. Ainda hoje, elemento masturbador de 9 entre 10 supostos intelectuais acadêmicos. Efetivamente, ele é o início e o fim e o meio de qualquer trabalho historiográfico, e, como ele próprio profetizava, o fim da História.

Embora tenha vivido no mais completo ócio, sendo bancado por seu escudeiro potencialmente submisso, Engels, passou a vida aos berros declarando a libertação do povo pobre alemão (morrendo confortavelmente, em Londres). Afeito aos chavões, embora fosse nacionalista, racista e divulgador polemista de teorias extremamente questionáveis (a vinda futura e mágica do comunismo), é nele que está firmado - Ou atolado - Todo pensamento orgânico de revolução ou mudança.

Elogiou a pobreza e prometeu mais do que poderia mostrar, como todo bom pai de religião.

Como todo pai de religião, viverá ainda muito tempo, sagrado em sua obscuridade, imutável e perfeito. Devemos a ele muitas ditaduras sanguinárias e o conceito bastante relevante da Mais-valia, para ricos estudantes de Economia, de faculdades públicas ou católicas.

Foi, fora de dúvida, o maior algoz das hipocrisias do Capitalismo. Tão ruim quanto o próprio Capitalismo, fora de dúvida.




(Encontrado pelo amigo que vos escreve,
junto aos tarôs de um necromante francês)