Certo arqueólogo de um futuro distante encontrou em um sítio o que chamamos hoje de textos sagrados. Intrigado, curioso e sincero, o tal homem resolveu tentar o que chamamos (nós antigos) de "falar com Deus". Para o seu espanto completo no momento em que terminou de orar bradou no ar, como um trovão, uma voz idosa e imponente:
- EU.
-... Deus?! - O homem não sabia se corria, gritava ou infartava.
- Sim, eu sou quase o próprio. Eu sou o tudo e o tudo sou eu... Praticamente.
- Não pode ser. Eu fiquei louco!
- Você está bastante são.
- Mas, não é possível, estou mesmo falando com Deus?
-... Sim. Praticamente.
- Você, Vossa Santidade, quer dizer, o senhor é uma força cósmica ou algo assim?
- Eu sou um cara branco sentado em um trono... Sério mesmo.
- Então os antigos estavam certos. Inacreditável.
- O que você quer?
-... Não sei. Nunca pensei, com todo o respeito, que existisse.
- Eu? Não existir? Absurdo!
-... Todo o mundo atual é ateu. Vai por mim, eles não acreditariam que falei com você em nenhuma circunstância.
- Ateu? Que coisa... Então?
- Então?
- Como estão as coisas? Dormi um tempão - dando uma risadinha - Um tempão no meu ponto de vista, seria um tempo absurdamente gigantesco pelo seu.
- Dormiu?
- Exato. Aquela coisa do sétimo dia e tal.
-... Segundo a tradição foi no começo do Universo!
- Sim, e terminei o sono cinco minutos atrás.
- Tá de brincadeira... Todo esse tempo, mas, então... Dormindo?!
- Sim.
- Que merda! A galera aqui arrumou uma confusão dos diabos!
- Diabos?
- Diabos, caras com chifres, Inferno!
- Caras com chifres?
- Vai bancar o desentendido agora?
- Meu filho, rapagote, seja mais claro.
- Ficamos séculos e séculos debatendo a sua existência, matando e morrendo, e depois de tudo isso, na maior cara grande, você vem com esse papo de "tava tirando um ronco"?!
- Exato.
- Sofremos muito aqui!
-... E?
- E?!
- Estou começando a reavaliar a sua saúde mental. Vá direto ao ponto.
- Tudo bem, qual o sentido da vida?
- Como assim?
- Por que existir? Por que estamos todos aqui, comendo e transando, nascendo e morrendo, qual o propósito?!
-... Acho que nunca vi as coisas por esse ângulo. É uma boa pergunta.
- Então não existe um sentido.
- Não mude minhas palavras.
- E agora? Destruirá o Universo com um estalar de dedos?
- ... Não. Destruir é uma atividade complexa e cansativa demais.
- Então eu pergunto... E Agora?
- Agora?
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