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Pederneira. Substância muito usada no fabrico de corações humanos. (Ambrose Bierce)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Da inexistência de Deus em termos neoplatônicos

Se Deus existisse e existisse livre-arbítrio:

Deus é eterno, Seu princípio maior é Sua perenidade constante. Toda a realidade flui de Deus, logo, tudo é Ele. Então temos um Deus que está em tudo, constantemente, e é a própria totalidade. Estando no todo ele, acertadamente, estaria em tudo, agiria em tudo, saberia de tudo. Seu principio maior, lógico, Sua base fundamental e Seu âmago é a própria eternidade. Agora, uma perspectiva interessante: Se Deus sendo tudo permitisse uma sabedoria dentro de si, o Homem, e essa sabedoria decidisse agir por conta própria, logo - livre-arbítrio - então ela estaria claramente violando o agir constante de Deus, agindo por si, estaria violando a imanência da vontade de Deus, por agir fora de seu próprio campo de conhecimento. Estaria sendo uma potência própria. Se tais fenômenos ocorressem então Deus entraria em paradoxo. Estaria, de uma só vez, quebrando Seu inquebrantável poder, desconhecendo um processo, desconhecendo um agir. Se Deus, por um só segundo abandonasse sua totalidade, estaria destruindo toda a sua existência em qualquer grandeza espaço-tempo.



Se Deus existisse e não existisse livre-arbítrio:

Se tão somente sem o livre-arbítrio seria possível existir um Deus (especialmente o Deus cristão-judaico-islâmico), então a própria existência do Deus seria NULA. Sem o livre-arbítrio; tudo aconteceria por um Destino* integral, na amplitude máxima do termo. Tudo, todas as ações, todas as coisas obedecendo o pensamento de Deus ininterruptamente (inalterável per si). Não existiria pessoa boa ou má, mas pessoas de sorte e pessoas de azar - pelo problema da Teodiceia. Em absoluto nada seria de responsabilidade humana; nada, nem o menor pensamento, nem a menor ação (obedecendo a perfeição de Deus). Por que alguém precisaria em tais circunstâncias de devoção, fé, ou Demonstração? Não precisaria. Simplesmente já nasceríamos padronizados ao Céu ou ao Inferno...

... Mas, Espere;


Agora temos entramos em outra contradição, também no Deus sem livre-arbítrio (algo de impossível): Se Tudo é o pensamento de Deus, Sua ação, Sua vontade, e mesmo assim existem ateus, é porque a própria existência de Deus é um engano (um paradoxo, sendo o Ser em algo Não-Ser).



Mais claramente: Cogito, ergo sum = Existo porque percebo que estou existindo = Logo, não poderiam existir ateus. O pensamento de Deus; TUDO, o SER; não poderia PERCEBER SUA INEXISTÊNCIA. Nenhuma realidade poderia perceber que não-existe, sua própria percepção pressupõe sua própria realidade. Paradoxo.



Paradoxos. Salvo em Tomás de Aquino, em que Deus é uma manivela (refutado por Hawking alguns meses atrás), ou Hegel, que faz de Deus o correr do tempo (visão tão subjetiva quanto impraticável). Subjetivismos intencionais e pouco honestos. É no fim das contas como nos diz Ernest Gellner sobre Kierkegaard (e vale o mesmo para Agostinho e todos os outros teólogos):

"Mostra em sua filosofia que a religião é, no seu fundamental, não uma persuasão da verdade de uma doutrina, mas sim a dedicação a uma posição que é inerentemente absurda".

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